| AS NOVELAS QUE TIVERAM SUA EXIBIÇÃO CANCELADA NO BRASIL

Sejam grandes emissoras ou pequenas, as novelas sempre são um produto que chama a atenção do público. Muitas das vezes se dão bem com poucos ou muitos investimentos, já em outras situações, todo o esforço vai de "ralo abaixo". Por falência, rejeição do público ou por horários precários, listo aqui as novelas tiveram sua exibição cancelada no Brasil.

"No casamento a rotina é pior que uma amante". Esse foi um dos slogans usados na divulgação da novela "Como Salvar meu Casamento", estrelada por Nicette Bruno e Adriano Reys na TV Tupi, em 1979. A história era sobre Dorinha e Pedro, um casal de classe média casados há 23 anos. Ele conhece uma moça mais jovem e a felicidade deles fica abalada. Desesperada, Dorinha procura recursos para salvar seu casamento e recuperar o marido. A TV Tupi fez a loucura de lançar a novela sem estruturas para a mesma e com índices de audiência muito baixos no horário que era exibida. Apesar das dificuldades, a novela conseguiu agradar parte do público e levantou a audiência que se refletiu no aumento do tempo de duração dos capítulos. O que ninguém imaginava era que a emissora fosse entrar numa crise que seria a última de muitas. O departamento de teledramaturgia fechou e "Como Salvar meu Casamento" saiu do ar, sem ter o final exibido e ainda, com apenas vinte capítulos para serem exibidos. Sem condições de estrear uma atração inédita, foi escalada a reprise de "A Viagem", a versão original escrita por Ivani Ribeiro exibida em 1975.

O Conde Drácula, interpretado por Rubens de Falco, deixa a Transilvânia e vem ao Brasil para encontrar seu filho, que havia sido levado ainda pequeno por sua babá. Essa era a história da novela "Drácula, uma História de Amor", escrita por Rubens Ewald Filho e exibida pela TV Tupi em 1980. Enfrentando uma crise em seu ápice final, a novela foi desenvolvida inicialmente por Walter Avancini, demitido da emissora antes da estreia da trama. Com 10 capítulos escritos, apenas quatro foram exibidos, ainda que para completar uma semana inteira no ar, o capítulo 4 foi dividido em duas partes (exibido na quinta e sexta-feira). O elenco contava com nomes de Bruna Lombardi, Carlos Alberto Riccelli, Cleyde Yáconis, Isabel Ribeiro, Paulo Goulart, Flávio Galvão e entre outros.
Em julho do mesmo ano, a BAND ressuscitou o projeto que teve os 10 capítulos reescritos por Rubens, que incrementou mais violência e nudez à pedido da emissora. Com menos cenários e mais atores, esta versão recebeu o nome de "Um Homem Muito Especial".

Como o SBT já estava se dando muito bem com as novelas mexicanas, num ciclo que se iniciou em 1982, a BAND resolveu tentar tirar uma "casquinha" desse sucesso e aproveitou muitas novelas que já haviam sido dubladas para Portugal. Foi assim que surgiu "Abigail", uma novela oriunda de 1988 na Venezuela que estreou em 1990 no Brasil e foi um grande fracasso. Protagonizada por Fernando Carillo (conhecido por aqui por seus personagens em "Rosalinda" e "Maria Isabel") e Catherine Fulop, a trama narrava a história da personagem título, uma moça mimada que estuda num colégio de freiras e se apaixona por seu professor de literatura. Quem acompanhou os três primeiros capítulos ficou a ver navios, já que a emissora desistiu da novela e cancelou sua exibição sem qualquer aviso ou final exibido.

Grecia Colmenares e Jorge Martínez estrelaram a novela argentina "Manuela", escrita pelo brasileiro Manuel Carlos. Oriunda de 1991, ela chegou ao Brasil através da CNT e Gazeta (na época eram uma emissora só) em 1993 e saiu do ar por baixa audiência. Em certo ponto, Grecia foi trocada por outra atriz no papel de sua meia-irmã Isabel, num período em que a personagem usava uma máscara.

O caso de "Guadalupe" em sua exibição através da CNT/Gazeta em 1993 foi bem diferente. Protagonizada por Adela Noriega e Eduardo Yañez, essa novela da Telemundo traz a história de uma jovem que busca reencontrar sua verdadeira família. Sua exibição não foi concluída graças a um incêndio no estúdio de dublagem que destruiu as fitas.
Em 1996, a emissora deu uma nova chance e reprisou a novela na íntegra. 

A crise final chegou até a Manchete no final dos anos 1990 e prejudicou toda a programação da emissora. Com a teledramaturgia em queda, a emissora investiu o que pôde em "Brida", uma novela baseada no best-seller homônimo de Paulo Coelho, exibida em 1998. A intenção era conseguir vender bem a novela se apoiando no sucesso da obra do escritor brasileiro. Carolina Kasting, Leonardo Vieira, Augusto Xavier e Rubens de Falco eram alguns dos nomes do elenco. A bomba estava pronta: o público não se identificou com uma novela sombria e exotérica que trazia um foco diferente das produções da emissora. O custo da novela era alto e os anunciantes tinham um contrato de risco no qual só pagariam pelos anúncios se a audiência atingisse os 5 pontos, o que não aconteceu. Das 19h passou a ser exibida às 22h20 e mesmo com muitas alterações, incluindo no roteiro e no acréscimo do erotismo, a novela não funcionou. Fechando as portas, muitos atores ficaram com contas pendentes e decidindo acabar com essa tragédia de uma vez, a fim de evitar mais prejuízo, a novela saiu do ar com uma narração do destino final dos personagens no capítulo 54, sem ter o capítulo final exibido. Foi substituída pela reprise de "Pantanal".

O que você acha de estrear uma novela sem avisar? Foi isso que a Record TV fez em 2003 com "Um Amor de Babá" (La Baby Sister), novela colombiana oriunda de 2000 de grande sucesso em seu país de origem. Protagonizada por Paola Rey e Victor Mallarino, a história traz uma moça que aceita o emprego de babá do filho de um professor seu da faculdade e se apaixona pelo patrão, que enfrenta uma crise no casamento. Sem avisar nada, quem sintonizava na emissora às 20h15 do dia 10 de março levou um susto e naturalmente, a audiência foi um desastre na casa dos 2 pontos. Problema ainda é que a primeira classificação que recebeu do Ministério da Justiça foi de imprópria para menores de 16 anos (?), mas a Record fez ajustes e conseguiu a liberação para imprópria para menores de 12 anos. A novela saiu do ar após 22 capítulos exibidos e substituída pelo documentário "Histórias de Guerra", que dobrou a audiência no horário.

A novela "Paixões Ardentes" (Pasión de Gavilanes), oriunda da Colômbia em 2003, foi a vítima da RedeTV!, em sua exibição de 2004. A história de três irmãos que buscam vingança e se dividem entre o amor e o ódio das três filhas do homem que foi o razão pelo suicídio de sua irmã, espantou não só o público como também os anunciantes, já que a emissora não conseguiu vender nenhuma cota de patrocínio. Exibida às 19h15 e depois às 20h15, com números inferiores a 1 ponto, a RedeTV! não viu saída a não ser cancelar a exibição sem qualquer aviso ou satisfação. Quem acompanhou, viu a trama até o capítulo 60. Foi protagonizada por Danna Garcia, Paola Rey, Natasha Klaus, Mario Cimarro e grande elenco.

Nem o SBT se livrou da crise. Em 2007, a audiência da emissora em geral caiu e desorganização foi geral, como foi o caso da extinção do departamento de assessoria de imprensa. As novelas mexicanas já não apresentavam o mesmo resultado desde 2006, mas foi em 2007 que as coisas se agravaram, principalmente com a estreia de "Destilando Amor", novela que ainda estava no ar no México e que os executivos da Televisa influenciaram por sua exibição no Brasil, dando a certeza de que seria um sucesso, como estava sendo lá. Exibida na faixa das 18h00, a trama protagonizada por Angélica Rivera e Eduardo Yañez que contava a história da Gaivota tequila amargou números entre 1 e 2 pontos. Não tinha como cortar se ainda estava no ar no México, com pouca diferença de capítulos, então, "Destilando Amor" foi retirada do ar após 19 capítulos exibidos sem qualquer aviso prévio. Foi substituída pelo desenho "Os Vegetais" e na semana seguinte, pelas reprises do humorístico "Escolinha do Golias". Anos depois, Silvio Santos disse que jamais tiraria uma novela do ar em respeito ao telespectador (mas cortar pode).

A BAND lançou "tendência" em exibir novela no período matutino com reprises e outras produções inéditas a partir dos anos 1980. A partir de 2011 voltaram a utilizar a faixa da manhã para a teledramaturgia com foco em tramas infanto juvenis. A terceira temporada de "Quase Anjos" (Cási Ángeles) foi uma delas, que por diversas vezes zerou a audiência da emissora e ainda sofreu com a edição da novela por atraso da Telefé para mandar os capítulos. Saiu do ar sem aviso prévio após 97 capítulos exibidos.

Responsável por reposicionar o setor de dramaturgia da Band e apresentar um novo formato, as novelas turcas foram grande um sucesso, isso a partir da estreia de "Mil e uma Noites", em 2015. Mas por erros estratégicos, aos poucos houve uma fuga de público e o gênero começou a perder força. O auge foi com "Minha Vida", transmitida entre 2018 e 2019. A história  rodeia duas irmãs que são criadas juntas. Uma é a verdadeira filha de um milionário, esta que foi separada dose verdadeiros pais, por seu avô. Pelas tantas esse mistério é descoberto e num golpe, os pais de criação da menina, trocam a identidade da verdadeira filha do milionário, pela filha biológica deles, na tentativa de se darem bem. A novela era dividida em quatro temporadas e a grande revelação do plot principal, acontecia no início da terceira temporada. Acontece que a Band abandonou a novela e exibiu somente as duas primeiras temporadas, com um pretexto de não saber da existência do restante. Para piorar, no "último capítulo", a emissora exibiu uma narração feita à mando próprio, para encerrar a novela numa cena de julgamento num tribunal, mas nem dessa forma, o grande mistério foi revelado.

Menções honrosas

Pouco tempo depois de encerrar a sua exibição, o SBT se empolgou com o sucesso de "Marimar" e iniciou a primeira reprise da novela, em 1998. Em plenas 11 da manhã, a segunda Maria de Thalia permaneceu no ar por apenas duas semanas, tudo por causa da Copa do Mundo, que começara no mesmo período.

Fugindo do público e dos contrastes de "As Tontas não vão ao Céu", o SBT estreou "Camaleões" (Camaleones) na faixa das 16h00 em 2010. A audiência empacou nos 4 pontos e a emissora passou a ter problemas com a classificação indicativa. O Ministério da Justiça notificou e ameaçou a emissora da alteração da censura de 10 anos para 12 anos por diversas vezes. Poderiam trocar de horário ou cortar mais do que já haviam cortado, o que era difícil. A saída escolhida foi acabar com a novela o mais rápido possível, com muito mais cortes e uma edição confusa, apelando até para os recursos de narração dos acontecimentos de alguns personagens para adiantar o final. Chegou ao fim com 108 capítulos exibidos. 

A Record TV voltou a apostar na teledramaturgia nacional com "Metamorphoses", uma novela produzida em parceria com a Casablanca, exibida em 2004. A trama misturava cirurgia plástica com máfia e ainda, inovou ao estrear em um domingo. O fracasso se deu a ponto de começar com 11 pontos e se arrastar entre 2 e 3 pontos. O texto era ruim e a trama era apresentada de forma linear, parecendo mais um filme que uma novela. Na gravação de uma cena, o elenco teve o trabalho interrompido por uma equipe da Casablanca que avisou que receberam ordens da emissora para encerrar o trabalho, alguns ainda gravariam algumas cenas e outros, já estavam dispensados. A novela chegou ao fim com 122 capítulos, 20 a menos do que estava previsto e no contrato.

Em 1992, a Manchete se aproximou da Televisa e trouxe a mexicana "Valéria e Maximiliano" (Valeria y Maximiliano") para o Brasil. Oriunda de 1991/1992, a trama trazia Juan Ferrara como Maximiliano, um rapaz que se encanta pela riquinha Valeria, papel de Leticia Calderón, uma moça mimada e caprichosa que é acostumada a ter tudo o que quer, menos com Maximiliano, o único homem que resiste às suas imposições e seu comportamento. Infelizmente, a emissora passou por uma crise onde funcionários, com salários atrasados, "sequestraram" as fitas desta novela e de "Dona Beija" (em reprise na época), que ficaram fora do ar por mais de dez dias, tendo desfalques nos capítulos exibidos.

Durou muito menos que o esperado a primeira reprise de "As Pupilas do Senhor Reitor", novela exibida originalmente entre 1994 e 1995 pelo SBT. Estrelada por Débora Bloch, foi exibida por apenas 4 dias, de 11 a 15 de dezembro de 2006, às 19h00. A desculpa dada pela emissora foi de "problemas relacionados aos direitos das músicas da trilha sonora". Em março de 2007, foi reprisada do início ao fim, à tarde e, anunciada com os dizeres "as canções de sucesso foram liberadas", num compacto de 65 capítulos, sem grande êxito.

Baseada em três romances de José de Alencar, "Essas Mulheres" foi a segunda novela da retomada da teledramaturgia da Record TV, em 2005, após o grande sucesso de "A Escrava Isaura". Estrelada pelo trio Christine Fernandes, Carla Cabral e Miriam Freeland, foi escalada como substituta da novela colombiana "Zorro: A Espada e a Rosa", em 2007, às 17h30, mas foi retirada do ar sem aviso prévio, depois de 17 capítulos exibidos, com a justificativa da baixa audiência.

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