O elenco de "Whiskey Cavalier" ao final do primeiro episódio, assim que a equipe é formada para trabalharem juntos em missões pelo mundo - Imagem: Warner Bros./Divulgação. |
Uma das apostas da rede ABC para o ciclo 2019-2020, "Whiskey Cavalier" estreou com uma oportunidade de ouro ao ter seu primeiro episódio exibido após o Oscar deste ano, a primeira vez em mais de uma década que uma série ganhou um espaço nesse lugar cobiçado da programação. Apesar do sucesso da estreia, os episódios posteriores foram despencando os números de audiência, acarretando seu cancelamento com uma única temporada de 13 episódios.
Protagonizada por Scott Foley, que também assina como produtor, e por Laura Cohan, a série narra as aventuras, disputas e guerra de egos entre dois agentes secretos que passam a trabalhar juntos numa equipe especial em missões secretas pelo mundo. O elenco ainda conta com Tyler James Williams, muito famoso no Brasil por seu papel de protagonista em "Todo Mundo Odeia o Chris" (Everybody Hates Chris), Ana Ortiz que ganhou fama na série "Ugly Betty" como a irmã da personagem-título e ainda, Vir Das, comediante de origem indiana.
Vamos começar pelos pontos positivos exaltando a qualidade e a riqueza de detalhes na direção, fotografia e ambientações. A série foi toda gravada na República Tcheca, um eixo bem incomum, já que a maioria dos seriados são gravados em Los Angeles. O projeto aproveitou muito pontos semelhantes de construções e ruínas para tornar crível sua ambientação principal em Paris. As externas são de encher a tela e os olhos com fotografias impecáveis e até mesmo, efeitos especiais de boa qualidade.
Cada episódio coloca os personagens em problemas que precisam ser resolvidos e em grande parte deles, em tempo recorde. Os flashs apresentados para ilustrar o que os vilões pretendem fazer funcionam bem para colocar o telespectador dentro da situação e torná-la ainda mais agravante. O confronto entre as partes acabam sendo iniciadas por golpes de luta e trocas de tiro, tendo alguns momentos, a condição de conseguir segurar um certo suspense e uma reviravolta em segundos.
Outro ponto bastante interessante que a série possui é a abertura. Nos últimos anos esse artifício foi abandonado pela maior parte das produções da indústria. Se tornou "mais comum e fácil" adicionar os créditos de elenco e de equipe técnica dentro dos episódios e apresentar o título da série em um fundo e fonte bem simples. Em aproximadamente 20 segundos, uma animação ágil surge ao som da ótima "Love Me Again", do britânico John Newman, lançada em 2013.
Infelizmente, nem tudo são maravilhas. O maior erro, ou exagero, está presente em seu enredo principal. O foco principal são as diferenças e necessidades de convivência de dois espiões que possuem personalidades muito distintas misturadas em missões perigosas, diálogos exagerados e um nível de comédia em demasiado excesso.
Para começar, Will Chase, o personagem de Scott Foley, sofre com uma desilusão amorosa ao ser abandonado pela noiva. Isso é uma evidência e às vezes, um problema para o meio frio e implacável no qual trabalha. Will é sentimental demais, se sensibiliza facilmente com dramas alheios e o tempo inteiro, a narrativa insiste em trazer de volta o drama que ele sofreu com a ex-noiva, principalmente depois de descobrir que ela o abandonou para ficar com o melhor amigo de Will e parceiro de trabalho, Ray. O curioso é que, depois do flagrante dele, a noiva Gigi, sumiu da série e não fica claro qual fim ela levou e nem o que aconteceu entre ela e Ray, se estão juntos ou não, por exemplo. A frágil amizade entre Will e Ray se torna um drama recorrente na vida pessoal dos personagens e uma questão bastante repetitiva.
Apesar de não se darem bem, Frankie e Will precisarão conviver juntos, talvez, até além do esperado - Imagem: Warner Bros./Divulgação. |
A personagem de Laura Cohan poderia ter sido perfeita se não tivesse ultrapassado os limites do exagero. Frankie é muito bonita, carismática, inteligente e esperta, mas sua personalidade durona e fria a torna cansativa e a coloca numa posição de "estraga prazeres" e "chata de galocha" o tempo todo. Suas inúmeras e às vezes, desnecessárias implicâncias e as disputas de ego contra Will deixam isso mais evidente. Tão evidente quanto o velho clichê do personagem se transformar em uma "casca grossa" ao tentar fugir de algum acontecimento do passado. Para piorar, o roteiro ainda justifica o comportamento grosseiro de Frankie para com Will como uma tensão sexual entre eles e o roteiro incita uma relação amorosa entre os dois. Forçado e desnecessário.
Outra que também sofre com traumas do passado é Susan Sampson, da latina Ana Ortiz. Ela, é uma especialista em comportamento humano, capaz de analisar mínimos detalhes numa pessoa e dizer se está mentindo ou não. Logo no começo da série, Susan desabafa dizendo que apesar de ser especialista em comportamento, não conseguiu nunca ter aproximação com as irmãs, que possuem pouco contato e obviamente, guarda isso como ressentimento e como resultado de sua estrutura emocional e psicológica. Quer mais clichê que isso? Uma personagem com facilidade em analisar pessoa com dificuldades de manter aproximações familiares?
Outra que também sofre com traumas do passado é Susan Sampson, da latina Ana Ortiz. Ela, é uma especialista em comportamento humano, capaz de analisar mínimos detalhes numa pessoa e dizer se está mentindo ou não. Logo no começo da série, Susan desabafa dizendo que apesar de ser especialista em comportamento, não conseguiu nunca ter aproximação com as irmãs, que possuem pouco contato e obviamente, guarda isso como ressentimento e como resultado de sua estrutura emocional e psicológica. Quer mais clichê que isso? Uma personagem com facilidade em analisar pessoa com dificuldades de manter aproximações familiares?
Apesar de todo mundo seguir um viés cômico, quem carrega mais o peso da comédia são os personagens de Tyler James Williams e Vir Das. Enquanto o primeiro, Standish, se concentra em aparecer para, em maior parte, soltar frases e tiradas engraçadas e parecer o maioral, o segundo, Jai, é narcisista em se gabar de sua inteligência, possui um humor muito ácido e não se dá bem com o jeito de Standish, até mesmo pela falta de organização do mesmo.
Enquanto a série dosa o drama, ação e o suspense usando a comédia, a tentativa soa exagerada e de insucesso. Talvez seja este o maior erro da série, já que a comédia surge em momentos inconvenientes e busca deixar todos os personagens engraçados e legais para o público. As caras e bocas e as piadas deixam isso claro. Um exemplo bom dessa mistura de drama e comédia, de forma bem sucedida, ocorreu em "Rizzoli & Isles" (2010-2016), que soube dar equilíbrio e naturalidade para as situações.
Uma opinião pessoal é que eu gostei da série e mesmo assim, deixou muito a desejar. Gosto de comédias e admirador de "Rizzoli & Isles" como sou, me divirto com a mistura do humor com a tensão, mas "Whiskey Cavalier" não conseguiu êxito nesta experiência. A maior culpa está em cima do exagero, seja na comédia que beira o "pastelão", nos personagens ou na ousadia de fazer algo diferente. Pode ser também que o público esperasse mais ação e menos tentativas de fazer graça, afinal, menos é mais.
A primeira temporada completa de "Whiskey Cavalier" se encontra disponível no GloboPlay e é exibida às sextas, após o "Globo Repórter" na Sessão GloboPlay e batizada como "Jogo de Espiões".
Obrigado pela visita e até a próxima!
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