| OS 10 ANOS DE ESTREIA DE "UMA ROSA COM AMOR" NO SBT

Depois de ter levantado a dramaturgia da Record TV com "A Escrava Isaura" (2004-2005), assustar a Globo com "Prova de Amor" (2005) e lançar a saga de "Os Mutantes" (2007-2009), Tiago Santiago deixava a emissora e recebia uma proposta grandiosa de Silvio Santos, a qual aceitou após algumas insatisfações na antiga "casa". Segundo ele, seu salário foi defasado, os cenários e elenco de suas novelas sofriam cada vez mais baixas e ele foi perdendo o desprestígio como consultor de dramaturgia. No SBT, ele também iria ganhar mais, três vezes mais do que ganhava na TV do bispo e a oportunidade de reestruturar a dramaturgia do SBT, o que nunca acontecendo.

No SBT, escreveu duas novelas, "Uma Rosa Com Amor" e "Amor e Revolução", sendo a última sua única obra 100% autoral. Hoje, 1º de março de 2020, é dia de festejar os 10 anos da estreia da sua primeira novela no SBT.

Os textos de "Uma Rosa com Amor" e "Minha Doce Namorada", ambas obras de Vicente Sesso que foram apresentadas pela TV Globo nos anos 1970, foram adquiridos pelo SBT em 2009. Se iniciaram em dezembro do mesmo ano as primeiras atividades e o começo das gravações, que foram finalizadas em julho do ano seguinte. 

Sinopse

Serafina Rosa Petroni é uma moça de 35 anos que mora com os pais, Amália e Giovanni, num cortiço do bairro do Bexiga, em São Paulo, junto dos irmãos Terezinha e Dino. Sonhadora, ela ainda espera encontrar o grande amor de sua vida, enquanto lida com a cobrança da sociedade e da família para arrumar alguém logo. Ela trabalha como secretária na empresa de Claude Antoine Geraldy, um francês comprometido com a socialite Nara Paranhos de Vasconcelos. Ele está correndo atrás de um negócio de 100 milhões a ser fechado com um casal de americanos, porém, para isso, precisa de conseguir o visto de permanência e cidadania brasileira para continuar no país de forma legal. Sua noiva, Nara não pode se casar enquanto não encontrar o ex-marido, que sumiu para não pagar a pensão dos filhos e, portanto, não é divorciada legalmente. No meio dessa corrida contra o tempo, o sócio Frazão tem a ideia de casar Claude com a secretária. A ideia é montar um casamento de fachada apenas para segurar o acordo milionário. Inicialmente ela não aceita, mas ganharia nesse casório de mentira uma quantia mais que necessária para conseguir comprar o cortiço onde mora e, assim, impedir a demolição que ocasionaria no despejo dos moradores. Depois de pensar, ela aceita se casar com Claude. A união passa a ser um segredo para muitos e Serafina acaba ganhando muitos inimigos, ao mesmo tempo em que Claude e ela começam a se aproximar cada vez mais e se apaixonam. 

Elenco

Edney Giovenazzi e Betty Faria viveram o casal Giovanni e Amália - Imagem: Reprodução/SBT.

Tiago Santiago sempre foi muito ambicioso para com suas escalações. Em 2007, por exemplo, desejava para "Caminhos do Coração" o nome de Fernanda Montenegro. Aqui, seu desejo era ter Sônia Braga no papel de Amália, mas a mesma recusou a proposta e a emissora sondou Betty Faria, que aceitou por achar que estava sendo muito desvalorizada na Globo. Outro nome importante foi o de Carla Marins, que deixava a Globo para ganhar uma protagonista pela primeira vez. Já o protagonista masculina caiu nas mãos de Cláudio Lins, famoso na emissora por ter vivido o mocinho de "Esmeralda" entre 2004 e 2005.

Jussara Freira deixava a Record para viver Pepa, a fofoqueira do cortiço. Outros que deixaram a emissora foram Mônica Carvalho e Toni Garrido, ela no destaque como a vilã Nara e, ele, como o sócio e melhor amigo de Claude, Frazão. O ator Carlo Briani repete mais um trabalho no SBT e aqui vive o pai de Nara, um homem ambicioso e sem escrúpulos, sócio de Claude e que pretende dar um golpe nele.

Estreia e audiência

A faixa das 20h00 havia sido descontinuada como horário das novelas do SBT em janeiro de 2008, quando "Amigas e Rivais" chegou ao fim. A estreia seguinte, "Revelação", inauguraria o horário das 22h00, após o excelente resultado da reapresentação de "Pantanal" e a ideia de disputar com as produções da Record TV que obtinham bons resultados no mesmo horário. Com isso, o SBT criou uma linha de shows intitulada SBT Show entre 20h15 e 21h15, até que "Uma Rosa Com Amor" surgia para reabrir o horário. As apostas eram grandes e a estreia, marcou apenas 4,8 (5) pontos e acabou se fixando posteriormente entre 4 e 6 pontos, alcançando 7 pontos em algumas ocasiões. Seu recorde de audiência foi obtido em seu último capítulo quando registrou 10 pontos. A novela foi finalizada com a média geral de 6 pontos.

Tema de abertura e trilha sonora

A escolha de "Pretty Woman" para a abertura, sucesso de Roy Orbison eternizado pelo filme "Uma Linda Mulher", foi uma exigência de Tiago Santiago. Para conseguir, o SBT precisou arcar com os custos de direitos da canção. A abertura mostrava personagens em forma de marionetes manipuladas, assim como os bonecos de Pimpinoni, um dos moradores do cortiço que fazia teatros com marionetes. A trilha sonora trazia Adoniram Barbosa com a inesquecível "Tiro ao Alvo", Beth Carvalho, canções de Cláudio Lins e Toni Gariddo, Fernanda Takai e entre outros, além de mais de 15 músicas que não entraram para a trilha sonora lançada comercialmente. Aproveitando o "núcleo balada", houve o lançamento da trilha "Uma Rosa com Amor - Pista Hits", que trazia músicas eletrônicas, sendo que a grande maioria não havia sequer tocado na novela.

Mônica Carvalho e Carlo Briani como Nara e Egídio / Maria Cláudia e Roberto Arduim como o casal de americanos Smith - Imagem: Reprodução/SBT.

O texto pobre de sempre e personagens desnecessários

Tiago Santiago é do mesmo padrão Walcyr Carrasco. Pode ser que faça sucesso, mas nem tudo são flores. O autor força um texto extremamente mastigado e repetitivo para explicar as coisas, explorando um didatismo cansativo na maioria de suas produções. Em "Uma Rosa com Amor" ele repetia falas como se fossem bordões. Os personagens americanos viviam repetindo as mesmas falas, assim como os moradores do cortiço que repetiam em todo capítulo que o cortiço ia ser demolido se ninguém conseguisse comprar. 

Personagens sem muita relevância estiveram dividindo cenas. A melhor amiga e fiel escudeira da ex-atriz Roberta Vermont (Isadora Ribeiro num papel medíocre), Alabá tinha como função seguir Roberta e falar dos produtos Jequiti. Lá pelas tantas, surgiu do nada um irmão gêmeo perdido de Toninho, papel de Rubens Caribé. Frazão, papel de Toni Garrido, também não tinha grandes funções, além de ser o melhor amigo de Claude. Na reta final, os netinhos de Dona Antonieta (um dos últimos trabalhos de Etty Fraser) começaram a ver e conversar com um fantasma do cortiço, que assombrava o lugar e precisava se libertar, um plot mais que aleatório e que surgiu do nada.

Vale lembrar que a novela foi recheada de sotaques, o que foi criticado pela artificialidade que os atores usavam no francês e no "padrão" de inglês aportuguesado, principalmente o francês de Claude. 

Atraso em gravações

As gravações estavam a todo vapor quando uma forte de chuva atrapalhou os trapalhos ao comprometer e destruir os cenários, incluindo boa parte da cidade cenográfica. Com isso, a produção precisou esperar para reconstruir e montar novamente os cenários e assim, normalizar os trabalhos da novela.

Silvio Santos mandou acabar

Insatisfeito com o desempenho da novela, Silvio Santos ordenou o encurtamento da novela em 35 capítulos para acabar logo. A desculpa dada era a chegada do Horário Eleitoral, o que a imprensa não acreditou. A ordem foi acatada e, curiosamente, após a decisão, a audiência da novela começou a subir até a casa dos 8 pontos, o que era surpreende. A trama havia chegado em sua melhor fase de audiência e dono se arrependeu da decisão que havia tomado, além do prejuízo. Ele queria que voltassem atrás e que a novela não tivesse apenas os 175 capítulos previstos, mas que fosse esticada para 205. Mas era tarde demais e, além dos cenários que já haviam começado a serem desmontados, 90% do elenco estava com o contrato para vencer.

MC Jottapê começando a carreira

João Pedro Carvalho em cena com Pietra Pan em cena da novela e o rapaz atualmente - Imagem: Montagem/Reprodução/Divulgação.

Em 2009, ainda criança, João Pedro Carvalho, ator e funkeiro que hoje assina como Jottapê e que estrelou a série "Sintonia", começou na TV depois de participar de um concurso do Programa Hebe para atuar em "Vende-se um Véu de Noiva". Ele ficou em segundo lugar, mas no ano seguinte, foi chamado para integrar o elenco de "Uma Rosa com Amor", como um dos netos de Antonieta, Joãozinho. Junto da irmãzinha, Miriam (Pietra Pan - a qual não encontrei muitas informações à respeito), ele possuía uma espécie de mediunidade que permitia ver e enfrentar o fantasma do cortiço.

"Uma Rosa com Amor" foi uma das melhores e mais agradáveis novelas do SBT, que apesar de alguns tropeços, conseguiu deixar uma marca especial. Precoce, ela ganhou uma reprise pouco menos de seis meses após seu término, à tarde, substituindo a mexicana "Camaleões".

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