| 15 MOTIVOS QUE JUSTIFICAM "A FORÇA DO QUERER" COMO A NOVELA DO ANO

Depois do fenômeno de "Avenida Brasil" em 2012, a Globo lutou muito para segurar a audiência das novelas das 9 e muitas das vezes não conseguiu tanto êxito, nas apostas e no sucesso das tramas. "Salve Jorge" , "Amor à Vida", "Em Família", "Império", "Babilônia", "A Regra do Jogo", "Velho Chico" e "A Lei do Amor" passaram longe (algumas muito longe) de ser um grande sucesso e do tipo que para o Brasil e junta todo mundo na frente da TV.
Tudo isso estava para mudar com a chegada de Glória Perez e a apresentação de seu novo trabalho. Abordando temas como a transsexualidade, o vício em jogos, sereismo, cosplayer e o tráfico de drogas, apostando ainda numa trama formada por três protagonistas com histórias e personalidades fortes, estreou em 3 de abril "A Força do Querer", a novela que aproximou a vida real da ficção, debateu, chocou e colocou em foco a realidade do nosso país. 
Batendo recordes de audiência, repercussão na internet e na boca do povão, "A Força do Querer" merece o posto de novelão e hoje, trago os quinze porquês que a justificam como melhor novela do ano.


A ficção misturada com a vida real
Histórias que inspiram, cativam e impressionam. A realidade se fez presente em "A Força do Querer" com personagens e situações. Começando pela Bibi Perigosa (Juliana Paes), a personagem surgiu da inspiração e adaptação da história de Fabiana Escobar e seu livro, uma forma de mostrar que subir muito alto de uma forma ilegal é a melhor forma de se machucar feio e destruir a sua vida. A Jeiza da ficção foi inspirada em Aline Trambaioli, Cabo do Batalhão de Ação com Cães, Policial Militar do Rio de Janeiro: o exemplo e a força da mulher, forte e capaz de ultrapassar as barreiras do preconceito e do machismo. Muitas das situações apresentadas na novela foram inspiradas em fatos reais, como o rapto de uma van escolar com crianças dentro, a morte de um policial militar, a invasão dos bandidos a um hospital para sequestrar um traficante ferido e o roubo e sequestro relâmpago de Dantas (Edson Celullari) e Yuri (Drico Alves), sem esquecer da conversa sobre o jogo da baleia azul. A Ivana e o Nonato não são inspirados exatamente em uma pessoa, mas em muitas que passam pelos mesmos dramas diariamente buscando encontrar um espaço e respeito na sociedade, assim como a dificuldade de uma pessoa do meio LGBT de arrumar emprego. Eurico (Humberto Martins) foi a figura fundamental para mostrar "os dois lados da moeda": era o preconceito que transitava junto com quem lutava para poder se expressar e ser ele mesmo, no caso, seu segurança e motorista Nonato: um exemplo de muitos homofóbicos que discriminam pessoas pela sexualidade. Joyce (Maria Fernanda Cândido) representou muitas mães que não compreendem seus filhos, assim como o restante dos familiares.

A força do merchandising social
Uma boa novela é capaz de colocar em debate os mais diversos temas, seja nas redes sociais ou até mesmo numa mesa de bar com os amigos, numa loja ou nas ruas na boca do povo. Um dos maiores trunfos da autora Glória Perez em suas novelas é colocar em conversa os mais variados assuntos, até mesmo tabus: barriga de aluguel, tráfico internacional de pessoas, homossexualidade, doação de órgãos, vício em drogas, a era da internet e culturas de outros países. Em "A Força do Querer" ela ousou discutir com o público a questão de gênero com Ivana/Ivan (Carol Duarte), que ganhou o carinho e a torcida da audiência, levantando o espaço para se falar sobre igualdade e liberdade, assim com Nonato/Elis Miranda (Silvero Pereira), um nordestino que fora expulso de casa por causa de sexualidade e trabalha como segurança durante o dia e se transforma, à noite, em Elis Miranda. O vício em jogos foi apresentado através de Silvana, magistralmente interpretada por Lilia Cabral em um trabalho que comoveu e chocou até o ápice da doença que ela sempre negou ter. Mesmo que representado de forma caricata e exagerada no início, a arte de se vestir como personagens de animes, o cosplay, teve uma visibilidade interessante na novela. Entre outros temas, como o sereismo de Ritinha com sua vontade de ser livre e quem quiser, a novela abordou de forma linear e condizente os dramas da sociedade e questionou quem assistiu, afinal é a ficção com os problemas reais de pessoas reais. Transformar, conscientizar e discutir também um ângulo do sucesso da novela, é um medidor do trabalho bem feito e do êxito.


Juliana Paes e sua Bibi Perigosa
Baseada na história real de Fabiana Escobar, conhecida como a "baronesa do pó", a história foi baseada no livro que ela escreveu contando sua história e como deixou de ser bandida para recomeçar sua vida. Juliana Paes foi encarregada de contar essa história ao público. Bibi é uma estudante de Direito que está prestes a se formar quando abandona tudo e se entrega ao amor nos braços de Rubinho (Emílio Dantas), assim como o relacionamento que tinha com Caio (Rodrigo Lombardi). Conforme as contas foram apertando, Rubinho entrou para o mundo do crime e por lá ficou. Por amor, Bibi foi junto e se transformou com a criminalidade, com a nova vida. Como a vida é feita de escolhas, a personagem sofreu com as consequências no momento que decidiu deixar essa vida ao ser trocada por Carine (Carla Diaz). Juliana deu um show com sua Bibi, transformando a personagem numa mulher que não deixou o seu lado humano, mas se deixou levar pela Síndrome de Bordeline, passando a enxergar a vida pelo amor, não por amar uma pessoa, mas por se sentir útil e amada. Houve ainda a relação do núcleo da criminalidade como um merchandising social, a retratação do momento atual do Brasil: Rubinho, Sabiá (Jonathan Azevedo) e Bibi foram os protagonistas da história real do tráfico de drogas que assola o nosso país, assim como a impunidade da nossa Justiça.


O brilho de Elizângela
Depois de uma passagem pela Record TV em "A Terra Prometida" (2016), Elizângela retornou à Globo com o papel da mãe de Bibi Perigosa. Aurora era uma mulher de fibra que sempre sonhou com a filha se formando como advogada. Para sua tristeza, a filha larga tudo para seguir, "apaixonada", os passos de Rubinho. Uma atriz que já foi estrela infantil e até cantora, Elizângela, dona de um currículo invejável na televisão, deu um show durante meses mostrando a fúria de uma mãe ao ver que a filha se tornou uma bandida e ainda encarnando e emocionando o Brasil com o único e verdadeiro amor: o de mãe. Aurora foi um presente para o telespectador e merecedora de todas as palmas. Que a Globo segure a atriz e possamos vê-la futuramente brilhando com seu talento e arrancando elogios do público.

Jeiza e a luta dos policiais


Não é nenhum absurdo afirmar que Jeiza é a melhor personagem da carreira de Paolla Oliveira. Filha de um coronel da Polícia, Paolla retratou a figura de uma mulher empoderada que luta contra o crime e ainda segue seu sonho de ser lutadora profissional de MMA. Bonita, determinada, heroína, cheia de atitude e garra, conquistou com o público no seu romance com Zeca (Marco Pigossi) ao ganhar a torcida pelo casal Jeizeca. A personagem, junto com Caio (Rodrigo Lombardi), foram os responsáveis pelas críticas à criminalidade e sua impunidade em nosso país, o que adianta prender o bandido se a Justiça vai e solta, trabalha contra o esforço diário deles? Uma das cenas mais comovedoras foi a morte de seu parceiro do batalhão, morto num assalto por ser policial, mostrando a injusta e dura condição de trabalho dos mesmos e arrancando lágrimas pelo choque da cena, por ser tão realista e cruel ao mesmo tempo. Jeiza é a figura do policial que acorda pra trabalhar na defesa do cidadão de bem e não sabe se volta intacta pra casa. A autora, Glória Perez, recebeu elogios da Polícia do Rio de Janeiro na retratação e reconhecimento de seu trabalho por meio de sua novela. Paolla se vingou das críticas e transformou Jeiza inesquecível, um exemplo.


Carol Duarte e Ivana: a revelação do ano
Uma atriz famosa no teatro fazendo sua estreia na televisão numa novela das nove: Carol Duarte. A revelação do ano foi a jovem atriz que se rendeu de corpo e alma ao drama de sua personagem, uma garota que não consegue se enxergar como mulher e sim como homem. Glória Perez fez a personagem cair no gosto do público, que torceu pelo que ela lutava e fez sofrer junto com ela. Com uma mãe que não aceitava de forma alguma a ideia de "perder a filha" e vê-la transformada num homem, Joyce jamais pôde ter sido desmerecida por sua "cabeça dura": era uma mãe que lutava entre a realidade e os laços maternos, o coração de mãe. O período da transição chegando ao ápice com uma revelação colocaram o capítulo 127 da novela na história da teledramaturgia brasileira: as comoventes cenas em que Ivana reúne a família para contar sobre sua transsexualidade, corta os cabelos e vai ao prantos junto com sua mãe, ambas inconsoláveis, dilaceradas emocionalmente. Carol Duarte entrou em sintonia com o seu núcleo em vários momentos e ainda chocou com a cena em que é espancada na rua por homofobia e perde seu bebê, fato que encadeia a aceitação da mãe pela condição do filho. Ivana passa a ser Ivan e após a tão sonhada cirurgia da retirada dos seios, tem seu final feliz ao lado de Claudio (Gabriel Stauffer). Há muitas indicações a revelação do ano, mas poucas são tão merecedoras como Carol que encarnou o desafio de se transformar num homem, nos brindou com seu carisma, talento, expressividade e a dor de uma personagem, abrindo mão também da vaidade em nome da arte e da representatividade de um grupo que sofre com a Justiça de um país que dá o "direito" de classificar a homossexualidade como doença. Seu trabalho foi de emocionar e conscientizar, debater e não há questionamentos de como ela realizou na mais excelência possível.

Isis, a sereia e o Parazinho
Com gravações no Amazonas, a fictícia Parazinho causou com um núcleo de humor bem elaborado. E foi a partir dali que começou a história com foco na saga de Ritinha (Isis Valverde), a filha do boto com Edinalva (Zezé Polessa). Sabe aquele personagem que você não imagina feito por nenhuma outro(a)? É o caso de Isis Valverde e sua Ritinha, da inocência de menina levada até sua irresponsabilidade, seu querer de ser livre e não ser propriedade de ninguém. A doçura, o sorriso e felicidade dela quando está com a cauda de sereia nadando em meio aos peixes, como se fosse um deles, foi expressado da maneira mais linda possível, aliás, a segunda "Sereia" da atriz, lembrando que na minissérie "O Canto da Sereia" (2013) ela viveu uma cantora de axé com esse nome. Glória dosou muito bem o cômico da região: Seu Abel (Tonico Pereira) e Edinalva arrancaram gargalhadas e a torcida para que terminassem a trama juntos. Luci Pereira, a Nazaré também divertiu com seu bar, sem esquecer da fiel cúmplice de Ritinha, Marilda (Dandara Mariana), que muitas vezes roubou a cena com a personagem de Zezé Polessa, uma figura carimbada que sai muito bem na comédia.

Débora Falabella e a inesquecível Irene
O maior fenômeno das novelas desde "Avenida Brasil" (2012), a novela de Glória Perez trouxe duas figuras que brilharam em ambas produções: Débora Falabella e Isis Valverde. Débora chegou chegando com sua Irene, ou melhor, Solange Lima, uma mulher perversa com um passado misterioso que se envolve com Eugênio (Dan Stulbach) e inicia um processo de destruição da família dele e de Joyce. Débora deu um show com uma vilã memorável vítima das próprias loucuras que ela traçou como objetivos, como engravidar e perder o bebê, mas seguir a diante com a ideia fixa de que iria ter um filho de Eugênio. Calculista e ladra, era foi a responsável pelo que Elvirinha (Betty Faria) correu boa parte da história: as jóias que a arquiteta roubou dela na época que era conhecida como "Solange Lima". Atualizada e conectada, ela agia através da internet mandado mensagens e vídeos para Joyce para implicar com a coitada e desestabilizá-la, afinal ela queria ser feliz em cima da desgraça da rival, acreditava cegamente que teria chances de ter o amor de Eugênio se acabasse com o casamento e a família dele. A morte da personagem foi um ponto inesquecível que marca a entrega em cena da atriz, encurralada por seus desafetos enquanto tem alucinações aterrorizantes e cai no poço de um elevador. Com seu jeito stalker, a frieza e o dissímulo, Irene Steiner entra para a galeria das grandes vilãs da teledramaturgia brasileira.


Ruyzinho e elenco infantil
Trabalhar com crianças requer cuidado: algumas não se dão bem com as câmeras e outras são muito tímidas, principalmente se for uma criança tão nova. A escolha de Lorenzo Souza para viver o filho de Ritinha, o pequeno Ruyzinho, foi um acerto e tanto. O menino se deu bem com todo o elenco, se tornou o xodó dos colegas de trabalho nos bastidores e ainda chamou a atenção pelo seu carisma, desenvoltura e sua fofura em cena. João Bravo, o Dedé, filho de Bibi e Rubinho na história, foi outra grande revelação da novela que surpreendeu com seu brilho e uma vítima das escolhas de seus pais. Drico Alves ficou entre o cosplayer e um adolescente que buscava uma forma de se expressar na arte de se vestir como Goku, famoso personagem do desenho "Dragon Ball".

Bordões e gírias na boca do povo
Sejam os personagens do morro ou de Parazinho, os bordões fizeram graça e caíram na boca do povo. "Vou te passar a visão", era o modo de Sabiá contar alguma coisa; "Já falei que a perigosa é problemática" era pra falar de Bibi. Ritinha com seu "Égua" que irritava Joyce; a variante "É-gu-a", e ainda o "Vou nadaaa" quando ia contra algo que lhe mandavam fazer, "Bora Logo", "Lasquei-me", "Dizque" pra expressar ironia e "Mas Credo".
Edinalva adorava falar "O pau te acha" quando queria dizer que Ritinha só estava se metendo em problema, além de "Amansar a tripa". Zeca, quando era contra mentira dizia "Êeeee", soltando ainda os famosos "Eita" e "Diacho". Seu Abel se referia a Ritinha como "Cobrinha" e quando seus desafetos estavam de conversa dizia que era "a reunião das caninanas" entre outras variações. Pra encerrar, vigiar alguém era ficar "abicorando".
Os bordões deixaram a novela na memória e no dia a dia do telespectador e confirmam a boa repercussão da novela.


Méritos, sucesso, repercussão na internet e imprensa
"A Força do Querer" começou morna e foi conquistando o público, acumulando recordes de audiência. Em números, seu recorde foram de 49 pontos no penúltimo capítulo e ultrapassando 50 pontos de pico no último capítulo. Numa comparação com "Avenida Brasil" e a atualização da mediação de audiência do Ibope, em 2012 a mediação de 1 ponto equivalia a 62.000 mil televisores ligados, atualmente cada 1 ponto é referente a 70.500 sintonizados. Contando os 3.224.000 televisores ligados na Carminha em seus 52 pontos e os 3.454.000 dos 49 pontos da trama de Bibi, a novela de Glória Perez teve mais público e é a novela mais assistida da década de 2010. Na internet houve uma torcida divida entre Bibi e Jeiza, por exemplo, havendo também o questionamento da apologia e glamourização do crime através da personagem de Juliana Paes, questão que foi rebatida pela autora. Falando em Bibi Perigosa, foi noticiada a decisão de uma adolescente de 14 anos, de Belo Horizonte, que teria saído de casa para se transformar na personagem. Após "Avenida Brasil", a Globo voltou a realizar uma edição especial do "Globo Repórter" dedicada a uma novela, mostrando os bastidores, depoimentos com elenco, autora e mostrando ao vivo a festa de encerramento da trama. Capítulo final com mais de duas horas de duração e muitos intervalos reafirmam a teoria de que comercial de novela das nove em último capítulo é semelhante ao comercial do Super Bowl nos EUA, que lotam de anunciantes e enchem a mão de dinheiro. Alguns críticos elogiaram a novela, enquanto outros passaram a apostar em falar sobre as falhas e os exemplos que repassava ao telespectador. O fictício Morro do Beco teve como locação a comunidade Tavares Bastos, favela no Rio de Janeiro que acolheu a equipe e o elenco de braços abertos, visitando e usando casas de moradores e ainda rendeu emprego de figurantes para eles, assim como durante as gravações no Amazonas para Parazinho.

Participações especiais
Aderir ao recurso da inserção de participações especiais em uma novela, em exagero, pode ser prejudicial ou positivo. Fafá de Belém entrou na história como a mãe de Zeca, uma cantora famosa que reaparece na vila, o que a cantora revelou que Glória lhe convidou desde o início da novela, que estaria escrevendo um papel especialmente pra ela. No caso da novela houve toda uma questão lógica: o movimentado bar de Nazaré. Joelma, ex- Calypso, se apresentou num show que Ritinha fez questão de estar presente. Após a recuperação do tiro que Zeca levou, Nazaré fez questão de comemorar com uma festa com a participação de Lia Sophia. Outras participações de cantores foram de Diogo Nogueira, Marília Mendonça, Xande de Pilares, Nego do Borel, entre outros, citando ainda, a aguardada participação de Pabllo Vittar num show com Elis Miranda, personagem de Silvero Pereira. 

Reconstrução de cenas e homenagens
Além dos fatos reais que Glória Perez mesclou na história, a autora fez a reconstrução cenas e homenageou Janete Clair, que deu sua primeira oportunidade como escritora de novelas para televisão. Após descobrir que o filho de Ritinha é na verdade de Zeca, a mãe da moça corre atrás dela na tentativa de surrá-la, a qual se refugia em cima do telhado, reconstruindo o que seria a famosa cena da novela "Gabriela" em que a personagem título (Sônia Braga/Juliana Paes) sobe no telhado para pegar uma pipa. A cena que Glória apresentou foi mais que uma referência à obra de Jorge Amado, mas uma homenagem à Janete, que por diversas vezes usou o recurso da personagem que sobe no telhado. Débora Duarte era Vilminha em "Pecado Capital" (1975), que subia no telhado após surtos psicológicos; no remake da novela em 1998, Paloma Duarte, filha de Débora, foi a responsável pela personagem, Walkíria (Rosamaria Murtinho) em "Pai Herói" (1979) e Daisy (Fernanda Torres) em "Eu Prometo" (1983) fizeram o mesmo. 
Carine, personagem de Carla Diaz, entrou na novela como a amante "novinha" de Rubinho e foi a responsável por referências a novela "O Clone", fenômeno de audiência de Glória exibida entre 2001 e 2002. Carla, que deu vida à Khadija, famosa pelo bordão "Inshalá muito ouro", repetiu uma de suas falas na novela dizendo que não iria arder na mármore do inferno. No último capítulo, ela se vestiu como Jade e dançou para Rubinho a música de "O Clone". 

A autora e a direção
Foi com esta novela que Glória Perez se redimiu com o telespectador após "Salve Jorge", sua novela anterior que deixou muito a desejar e decepcionou o público com "loucuras demais". "A Força do Querer" foi uma maravilhosa surpresa que colocou a faixa das nove novamente no patamar de fenômenos de audiência dos últimos tempos. Escrita sozinha por Glória, ela foi muito responsável em dar tempo a cada núcleo (cada uma das três protagonistas tiveram um certo certo para se destacar e ganhar espaço) e tratar com delicadeza e serenidade cada um dos temas abordados e ousou fazer críticas a atual situação do Brasil, construindo personagens que caíram nas graças do público e que não serão esquecidos como muitos de outros trabalhos seus. Admirável é o empenho de Glória em criar um vínculo com o telespectador conectado que através das redes sociais, como o Twitter, cria um convivência com quem assiste: troca opiniões, tem acesso a um feedback em tempo real e ainda sai da zona de criadora para ser telespectadora. Quem precisa andar em conexão com a autora é a direção, um aspecto que influenciou para o sucesso e a qualidade. Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos tornaram muitas cenas impecáveis e lindas pelos detalhes, olhares, pela realidade e através da exploração do contexto de cada uma. Torcemos muito para o repetimento desta equipe no próximo trabalho de Glória Perez.

Abertura e trilha sonora
Uma abertura cheia de filtros e um casal caminhando que chega ao alto e enxerga o que passou pra chegar ali é uma definição da abertura de "A Força do Querer", que embalada pela música "O Quereres", de Caetano Veloso, torna perfeita a intenção de refletir a história da novela na vitrina que é a abertura, em algumas ocasiões substituída por temas instrumentais vindo de cenas e momentos impactantes que a sucederam, perfeito. A trilha sonora trouxe sucessos do momento de Marília Mendonça, Wesley Safadão, a música "Sereia", composta por Roberto Carlos para Ritinha; o ritmo contagiante do "Despacito"; músicas que exploraram o Carimbó como "Boto Namorador", "Ah Menina" e "Curió do Bico Doce", interpretadas respectivamente por Dona Onete, Lia Sophia e Gonzaga Blantez, esta última que Ritinha adorava dançar. Escolhida como tema de Ivana/Ivan, "True Colors" de Cindy Lauper, complementou e se tornou uma perfeita escolha para sonorizar o drama dela, citando também "De toda cor" de Renato Luciano e participações. Outras canções de destaque da trama são "Caçadora" (Lucy Alves), "Perigosa" (Anitta), "Cheguei" (Ludmilla), "Te Faço um cafuné" (Mariana Aydar), "Up & Up" (Coldplay), "I Hate U, I Love U" (Gnash ft Olivia OBrien) e entre outras.

Encerramento
Técnica conhecida e eficaz na enfatização do gancho para o capítulo do dia seguinte, os congelamentos finais de "A Força do Querer" prenderam os personagens e o público. Além dos temas instrumentais que marcaram a história, o encerramento era marcado pelo "tema de elevação" (marcante e inesquecível) que preparava o telespectador com alguma cena impactante e sinalizava o final do capítulo, terminando com o congelamento. A vinheta com os créditos finais trazia muitas vezes o áudio em off de alguma cena rolando enquanto subiam os nomes da equipe e envolvidos. Impacto era pouca coisa perto da força e sensação que esse artifício causou. O encerramento da novela foi tão marcante quanto a história, um ponto que a gente não parava muito pra prestar atenção e passou a fazê-lo.



Uma novela como poucas, que passa, impacta e deixa sua marca na memória e na história. Uma autora e uma direção responsáveis por uma obra merecedora do EMMY. A toda equipe envolvida que caminhou em sintonia, muito obrigado por esse novelão. Ficaremos órfãos de uma força capaz de tornar possível o impossível, só tenha cuidado pra não ter um "passamento" de tanta saudade.






Obrigado pela visita e até a próxima!

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