"DA COR DO PECADO" ESTREIA NO VIVA COM TENTATIVA DE REPARAÇÃO HISTÓRICA

Fenômeno de audiência na faixa das 19h em 2004, "Da Cor do Pecado" estreou nesta segunda (19), no VIVA, no prime time do canal, substituindo "Mulheres Apaixonadas".

Imagens: TV Globo / Montagem / Canal VIVA / Reprodução YouTube.

Escrita por João Emanuel Carneiro, a trama se desenrola a partir da história de amor de Preta (Taís Araújo) e Paco (Reynaldo Gianecchini), que inclusive tem um irmão gêmeo chamado Apolo. Preta e Paco se conhecem em São Luís do Maranhão, numa viagem dele e se apaixonam perdidamente. Eles tentarão ficar juntos, mas sofrerão com as armações de Bárbara (Giovanna Antonelli), a grande vilã da trama que, é namorada de Paco e planeja um golpe do baú para ficar com o rapaz e com a fortuna da família Lambertini. 

A estreia da reprise começou com alguns pontos interessantes e que deixaram os internautas intrigados. Muito comum no VIVA, os programas são exibidos com uma tag na tela, com o nome do programa seguido pelos dizeres "NoVIVA". Mas não aconteceu isso, apenas um letreiro pequeno escrito "Estreia". Nas chamadas agora, o locutor não menciona mais o nome da novela. No canal oficial do VIVA no YouTube, não há menções ao título da novela nos trechos publicados. Ao final do primeiro capítulo, uma mensagem: "esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada". Não entendeu ainda?


No YouTube, no canal oficial do VIVA, não há menção ao nome da novela nas publicações e trechos; na segunda imagem, o aviso apresentado ao final do capítulo, no canal.


O VIVA está tentando fazer uma reparação histórica, atitudes que se tornaram frequentes e importantes nos últimos tempos, em decorrência de obras que de alguma forma apresentam temas e diálogos sobre o racismo e outras questões sociais que não são mais toleráveis para os dias atuais.

É preciso começar explicando algumas coisas. Primeiramente, Taís Araújo, aqui, interpretou a primeira protagonista negra de uma novela da Globo. Existe um peso e uma questão histórica importantíssima nessa escalação e nesse papel de visibilidade e representatividade. A personagem Bárbara constantemente usa de termos racistas para humilhar e depreciar Preta, incluindo com o filho dela, que vem a nascer no meio da história, fruto de sua relação com Paco. O herdeiro legítimo da família Lambertini é Raí, papel desenvolvido por Sérgio Malheiros. É uma criança negra que, Bárbara insiste em humilhar e impedir que seu filho conviva ou sequer brinque junto. Existe também uma desconfiança por alguns personagens de que, esse menino, não seja filho de Paco e sim um golpe. Raí, aos poucos conquista a todos, principalmente ao avô ranzinza, Afonso (Lima Duarte), que não o aceitava bem.

Bárbara é uma vilã manipuladora e racista, não deixa nem mesmo que seu filho mantenha contato com o filho de Preta. Foi a primeira "vilã loira" das novelas de João Emanuel.


Agora vamos para o segundo ponto: a problemática desse título. Da cor do pecado, é um termo racista. A expressão "da cor do pecado" é associada tanto à sexualização de mulheres negras, vistas antigamente (e até hoje, por preconceituosos) como objetos sexuais, quanto à relação feita na época da escravidão entre negros e o pecado. Os homens influentes do Brasil colonial justificavam o fato de negros serem feitos de escravos como uma espécie de "castigo divino", ligado a supostos pecados. Automaticamente, é óbvio fazer associação de pecado a algo ruim.

Além do racismo, a novela tem outros núcleos problemáticos, como o caso de Abelardo (Caio Blat), um dos filhos da família Sardinha que se identifica com a arte de ser maquiador, indo contra todos os preceitos másculos e cultuados pela família de lutadores. Era um personagem homossexual e que vivia sofrendo represálias da famílias e alvo de piadinhas homofóbicas. Mas como é "comum nas novelas de João Emanuel", ele sofre uma bizarra "cura gay" na reta final.

A família Sardinha exalta a masculinidade e zombam da feminidade do irmão Abelardo.


Outro personagem questionável, é o Pai Helinho, vivido por Matheus Nachtergaele. É basicamente um falso pai de santo que usa seus trambiques pra fazer dinheiro e trazer uma legião de fãs até seu "consultório", onde faz contatos, de mentira, com espíritos, para atender aos clientes. Na sinopse, diz que as coisas complicam quando ele começa a receber os espíritos de verdade. É um dos núcleos cômicos da novela e que pregam uma intolerância religiosa. É curioso que uma emissora que tenha abordado brilhantemente o espiritismo em produções como "A Viagem" (1994), tenha se prestado a aceitar essa zombaria.

Bem, eu considero a atitude do VIVA em alertar sobre o conteúdo apresentado, louvável e, acredito, que isso deveria ter ocorrido até mesmo com outras novelas que trazem um debate sobre situações e atitudes equivocadas e não mais aceitáveis para nossa sociedade atual, esta, que busca cada vez mais igualdade e erradicar o preconceito. Talvez censurar de vez o título seja muito radical. Concordam ou não?




Obrigado pela visita e até a próxima!

Comentários

  1. Na lista de filmes está faltando o Cine Record Especial, Super Tela, Cine Aventura, Cine Maior e Tela Máxima, Sessão da Tarde, Tela Quente, Temperatura Máxima, Supercine, Corujão, Cinema Especial, Campeões de Bilheteria, Sessão de Sábado, Sessão de Natal, Festival Ano Novo, Cinemaço, Sessão Globoplay.

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    1. E também as extintas Sessão de Gala e Festival de Sucessos (de 2008 a 2014 e seu curto retorno em 2019)

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