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| REVIEW: OS RICOS TAMBÉM CHORAM (2005)


O ano era 1982 e o SBT, em sua recém existência, colocava no ar sua primeira novela. A televisão até aquele momento estava acostumada com filmes e seriados americanos dublados, agora, novela de fora do país e dublada, era a novidade. Entrava no ar “Os Ricos Também Choram”, uma história exportada pela Televisa, de 1979.
Era uma história simples. Mariana, uma moça pobre que vive humildemente no interior perde o pai e vai para a capital, onde acaba sendo acolhida por uma família rica. A moça é educada enquanto cai de amores pelo herdeiro da família, ao mesmo tempo em que ele está comprometido com sua prima Esther.
Estrelada por Verónica Castro, foi um grande sucesso. É válido ressaltar que além de um núcleo de dublagem criado pelo SBT em suas instalações, a Elenco Produções, houve um processo de sonorização da novela (e das seguintes), com a inserção de músicas e o lançamento das trilhas sonoras para o mercado.

O tempo passou e no início dos anos 2000, Televisa e SBT estavam num acordo de vendas de textos deles para a regravação por aqui. Além de um título forte, “Os Ricos Também Choram” era muito significativa para a história do canal. Conta-se que a primeira tentativa do acordo foi em 2003, mas não houve um consenso, o que só aconteceu dois anos depois.

Thais Fersoza como Mariana na primeira fase da novela - Imagem: Reprodução/SBT.


Foi a nona novela fruto dessa parceria, substituindo o grande sucesso de “Esmeralda” (2004-2005). Posteriormente, todas as novelas eram basicamente regravadas, o texto era traduzido para o português e haviam mínimas alterações no enredo. A partir de “Seus Olhos” (2004), houve uma liberdade para adaptar os textos e fugir das críticas de “dramalhões que fugiam da realidade brasileira”.
Baseada na obra de Inés Rodena, a nossa versão trouxe uma nova novela, onde pouco foi aproveitado da estrutura original. Foi escrita pelo time Marcos Lazarini, Aimar Labaki, Conchi La Branna e Gustavo Reiz em 152 capítulos, com direção de Jacques Lagoa, Luiz Antônio Piá e Henrique Martins, com direção geral de David Grimberg.
Desta vez, a trama se passa entre 1914 e 1930. Mariana é órfã e vive no interior, trabalhando na colheita de café na fazenda do Coronel Evaristo Martins. Por acaso, ele descobre por uma marca de nascença, que Mariana é sua filha, depois ter tido uma aventura com uma empregada. Desesperado para corrigir a injustiça, ele muda o testamento deixando tudo que tinha para a moça, deixando sua esposa Ester e a filha Sofia, sem nada.

A saudosa Françoise Forton como a viúva Arabela Guedes - Imagem: Reprodução/SBT.


O Coronel passa uma crise financeira e tira a vida. A esta altura, a viúva já havia expulsado a moça da fazenda e ao descobrir tudo, fica desesperada, decide dar procurar Mariana para impedir de qualquer forma que ela receba a tal sonhada herança. Todas elas vão para a cidade a fictícia de Ouro Verde, entrando para a família Domingues. No caminho, Mariana conhece Alberto e posteriormente Bernardo, por quem ela será disputada.
Para "abrasileirar" a novela muitos elementos foram incluídos, ganhando um tom mais sério e dramático no que se refere a política e moralidade.
A protagonista é Thais Fersoza como Mariana, em seu primeiro projeto como protagonista. A moça é determinada, resiliente e tem os típicos traços que uma mocinha precisa.
Mika Lins vive Ester, com seus tiques e marcações deixou a personagem deliciosamente extravagante e obstinada. A personagem que existia no original, ganhou um novo direcionamento foi dividida em duas, antes a grande vilã, agora ela tem uma filha, Sofia (Ludmilla Dayer), propositalmente insuportável. É como se a mãe fosse a cabeça e a filha, os braços. Existe aqui, um grande mistério que envolve a fiel empregada Mira (Nany di Lima), meio bruxa e muito discreta, é na verdade a mãe de Sofia.
A família Domingues é formada por Antônio (Jonas Bloch) e Maria José (Glauce Graieb), além dos filhos Alberto (Marcio Kieling) e Bernardo (Felipe Folgosi).
Houve a criação de núcleo cômico a partir dos personagens da pensão da Dona Gênova (Marcela Muniz), principalmente com a chegada de Samuel e Hugo, personagens de Joaquim Lopes e Celso Bernini que, fugidos da polícia, se escondem na cidade disfarçados como as donzelas Dafne e Josefina.

Mika Lins e Ludmilla Dayer como as trambiqueiros Ester e Sofia - Imagem: Reprodução/SBT.


A tensão política liga a família Domingues aos Guedes. Inimigos, a líder dos Guedes é Arabela (Françoise Fourton), que desde que ficou viúva só se dedica ao lado do filho Pedro (Thierry Figueira) no comando da prefeitura da cidade, guardando um profundo luto junto das filhas Olga (Flávia Monteiro), Inês (Karla Tenório) e Solange (Ana Fuser).
A cidade ainda abriga figuras como Sr. Salgado (César Pezzuoli), o português dono de uma confeitaria que cai de amores por Dafne; o barbeiro Epitácio (Fernando Neves) que aguarda diariamente o retorno da esposa que foi embora, enquanto a cunhada, vivida por Carla Fioroni, cansada de implorar pela atenção e amor dele, vai embora e volta como se fosse a irmã.
Na pensão da Dona Gênova, moram alguns inquilinos, como o professor Luís Carlos (Guilherme Trajano), líder de um grupo secreto de jovens comunistas; Martina (Milena Toscano), a funcionária da confeitaria que tem um amor platônico pelo misterioso radialista Adolfo Coimbra (Phil Miller); além de um grande segredo que envolve Gina (Débora Gomez), criada como irmã de Gênova, é na verdade filha dela.
Há também uma família de espanhóis formada por Nino (Nicola Siri), Tolosa (Patrícia Gaspar) e Agustin (Jiddu Pinheiro).
A empregada dos Guedes é Otávia, uma espirituosa governanta de Magali Biff, que sempre tem uma frase sábia pra toda situação. Os Domingues contam os serviços de Adeniy (Edson Montenegro), Tiana (Graça Andrade) e a filha deles, Kemi (Ildi Silva).

Joaquim Lopes e Celso Bernini viviam na cidade disfarçados como Dafne e Josefina - Imagem: Reprodução/SBT.


Até a disponibilização da novela pelo +SBT, “Os Ricos Também Choram” era uma novela quase obscura. Não havia muito material dela na internet, chamadas, poucas imagens em boa qualidade e trechos, mas nada que desse uma dimensão da novela. Eu também não tinha grandes recordações. Também nunca foi reprisada e nem mencionada pelo canal, nem mesmo no “Festival SBT 30 Anos” (2011), na edição especial sobre novelas. Mas assisti-la agora foi uma experiência interessante.
A trilha sonora nos leva a uma viagem no tempo. Os costumes, cenários e figurinos foram cuidadosamente explorados, reaproveitando a cidade cenográfica das novelas de época dos anos 90.
Sobre a história, a narrativa se arrasta até o capítulo 50, aproximadamente. Enquanto Mariana se instala na cidade grande, as primas Ester e Sofia se abrigam na casa dos Domingues, aproveitando das regalias e do desespero em Sofia fisgar Alberto. Neste período, Alberto está apaixonado e enrolado com Mariana, ao mesmo tempo em que é cortejada pelo irmão dele, Bernardo. Os dois estão apaixonados pela mesma mulher, mas nunca é descoberto, é sempre um mistério um pro outro ou pra família, isso quando não são interrompidos quando tentam revelar. Depois, Mariana foge ao ver Alberto com Sofia, acaba o relacionamento, enquanto Bernardo a consola contando que deseja ajudá-la a se tornar uma moça fina e educada.

Felipe Folgosi e Márcio Kieling como os irmãos Alberto e Bernardo Domingues - Imagem: Reprodução/SBT.



Nesse meio tempo, Ester e Sofia já falsificaram as joias de Maria José e plantam a semente do mal. No retorno de Mariana, ela é apresentada por Bernardo como sua noiva, criando um tremendo mal estar entre os irmãos. Mais uma vez, trocam indiretas, mas nada fica claro.
Nesta altura os irmãos estão comprometidos, Alberto com Sofia e Bernardo com Mariana. Os noivados são desfeitos e a novela é transformada pela Revolução e pelo contexto de guerra, quando os irmãos vão para a batalha.
Numa cilada, Sofia finge estar grávida de Alberto, mas na verdade está envolvida e esperando o filho de Pedro. Alberto casa com Mariana escondido da família. Ela também engravida e os irmãos partem para a guerra.
Aí começa o novo sofrimento de Mariana, grávida, começa a ser perturbada por Sofia. Toma um chá envenenado que só piora sua saúde, enquanto é transformada em uma falsa louca e de lá, posteriormente acaba sendo presa depois de uma armadilha das vilãs de incriminar de tentar matar Sofia envenenada.
Ah, o pior, Pedro arma uma cilada e mata Alberto durante a guerra. Ao saber disso, o mundo de Mariana e da família desabam. Mas ele sobreviveu, anda perambulando como um mendigo sem memória. Se torna em Adão quando é encontrado por Olga.
Daí em diante, Mariana come o pão que o diabo amassou. Vivendo quase em cárcere privado, foge de casa e dá a luz na mata, em um casebre abandonado. É feita de louca até ir parar numa clínica e, posteriormente, é presa.
Na reta final os mistérios são revelados e Ester é desmascarada. Adão retorna cheio de ódio contra a própria família, até enfim cair em si e retornar para os braços de Mariana, depois de um confronto quase fatal no cemitério com Pedro. O último capítulo é marcado pelos casamentos dos irmãos Domingues e com o ato final de Ester ao sequestrar Albertinho e partir com ele para um esconderijo na mata. Ela entrega o bebê em troca da tão sonhada herança, mas durante o momento, um incêndio se propaga no barraco e ele morre queimada junto da fortuna que sempre quis.
No geral, as mudanças da novela tiraram o drama enraizado da história e a colocou num panorama muito brasileiro, principalmente pelas datas políticas e momento históricos por onde ela se estende. O texto é cativante, mas a novela só engrena de vez com o retorno de Mariana à cidade. A maioria das resoluções finais são satisfatórias, exceto pela ausência de uma cena onde os personagens de Samuel e Hugo fossem desmascarados do disfarce como mulheres, pelo qual enganaram toda a cidade, já que isso acontece rapidamente quando Samuel, vestido de Dafne, desiste de casar e tira a peruca revelando ser um homem, na verdade.

Glauce Graieb e Jonas Bloch como o casal Maria José e Antônio - Imagem: Reprodução/SBT.


São 152 capítulos de dramas, sofrimentos é uma luta pela felicidade e pelo amor verdadeiro, além da tentativa de corrigir injustiça. É um retrato interessante de uma época de investimentos do SBT na dramaturgia, principalmente pelo elenco estelar reunido como Jonas Bloch, Glauce Graieb, Flávia Monteiro, Marcela Muniz, Françoise Forton, Fernando Pavão, Carla Fioroni, Flávio Galvão, Mika Lins, Graça Andrade, César Pezzuoli, Edson Montenegro, Nanny di Lima, Mika Lins e outros.
Nesta fase da dramaturgia do SBT, a direção estava sempre atenta no elenco da concorrência. Thais Fersoza e Márcio Kieling vinham de trabalhos na Globo, assim como Ludmilla Dayer, que havia chamado atenção por "Senhora do Destino" (2004). Já Nicola Siri, havia arrebatado a audiência de "Mulheres Apaixonadas" (2003), como Padre Pedro.

O título da novela remete que apesar de todo o dinheiro, todo mundo sofre, todo mundo tem problemas e dilemas. Dinheiro facilita muitas coisas, mas não paga o essencial. Os pobres choram e os ricos também choram.


Obrigado pela visita e até a próxima!

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